terça-feira, 29 de março de 2016

HOMENAGEM A UM GRANDE HOMEM

HOMENAGEM PÓSTUMA a Céu
“Mortem non timeo”
A Páscoa de Ivanildo Farias.
Hoje, navegando pela internet, distraidamente absorvido por mensagens de pouca ou muita valia, fui pego pela notícia do falecimento de uma expressiva figura da sociedade bezerrense que nos deixou – Ivanildo Farias - CEU -. Já não pertence mais a este plano terrestre. Apesar da distância, daqui tenho acompanhado com tristeza a partida de alguns conterrâneos. Todos indo embora assim, alguns ainda cedo, outros ainda em plena atividade, com tanto ainda para viver. E mesmo assim, atendendo ao chamamento divino, muitos acabaram viajando. É muito triste a gente ver um ente querido partir. Sempre sentimos a perda de um grande amigo.
Entre amigos eu pergunto: para que serve um amigo? Para um bate papo na esquina, emprestar um livro escolar, recomendar um filme, participar de uma festa esbanjando alegria entre amigos, caminhar pelo campo, segurar a nossa barra quando está pesando justamente do nosso lado. Todas as alternativas estão corretas, mesmo assim essas coisas não são o bastante para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.
Ralph Waldo Emerson afirmava em seus escritos que a glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia em você. O verdadeiro amigo é aquele que testemunha o nosso passado, tornando-se nosso espelho, que através dele podemos nos olhar. Através da amizade firmamos aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos. A amizade entre as nossas famílias Lira e Nascimento remonta a muitos anos, confunde-se através dos tempos, alcança a eternidade onde muitos dos nossos encontram-se agora, inclusive o nosso pranteado Céu. Este homem que nos deixa agora, sempre preservou a tradição herdada de seus pais, inclusive foram meus padrinhos de batismo. Homem integro, capaz de grandes gestos sem ostentação, discreto, ele oferecia a mão direita não permitindo que a mão esquerda olhasse. De poucas palavras, Céu foi o exemplo da discrição. Sou testemunha da grandiosidade deste homem de Deus quando estando eu em Bezerros, hospedado em casa de meu amigo irmão Jarbas, tive a notícia de que minha mãe estava hospitalizada, em estado de coma num hospital do Rio de Janeiro. Entrei em desespero, resolvi retornar imediatamente para firmar presença naquela dolorosa provação. Naquele fatídico domingo, Carminha e Céu iriam me oferecer um almoço. Em um gesto de compreensiva fraternidade, Céu foi prestar solidariedade à minha família, representada por minha pessoa. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo construído. São amizades em período de teste, não formadas pelo tempo, sem saber se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridas numa chuva de verão. Fica na expectativa. Um verdadeiro amigo não se limita tão somente em segurar a nossa barra em momento de crise: ele divide lembranças, pode até chorar, o mais importante, ele amealha experiências. Divide a culpa, conserva segredos...
Um amigo não se restringe somente no bate papo. Empresta verbo, oferece o ombro amigo, não limita o tempo, dedica o seu humano calor, ele oferece um casaco contra o frio de inverno.
Um amigo não só esbanja alegria. O seu exemplo nos contagia, recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.
Um verdadeiro amigo não nos recomenda apenas um filme. Ele nos leva ao mundo dele e topa conhecer o nosso mundo também.
Um verdadeiro amigo não empresta somente um livro escolar, ele passa contigo um aperto, participa contigo das orações na igreja, desfila nas procissões ou caminha contigo mascarados nas festas do papa angu.
E Céu foi tudo isto, muito mais ele foi, ele sabia andar em silêncio na dor, entrava contigo em campo, conseguia sair do fracasso ao teu lado. Soube segurar a mão do sofredor, em nome de Jesus, respeitou as ausências, segurou uma confissão, segurou o tranco, soube compreender o palavrão, segurou a dor do irmão que padecia.
É difícil colecionar amigos deste naipe, às dúzias. Se tiver um, amém. Graças a Deus tivemos este ser chamado Céu.
Neste momento de dor uno-me à família enlutada, envido minha solidariedade principalmente à Carminha, exemplo de mulher, de amiga e de esposa.O melhor amigo terá provavelmente também a melhor mulher, porque o bom casamento residente no talento da amizade. (Nietzsche) Carlos Lira
Obs.
No dia 4 de abril, às 18 horas, será celebrada uma missa em sufrágio da alma deste nosso inesquecível irmão em Cristo – IVANILDO FARIAS. na Igreja da Ressurreição, na praia do Arpoador, Copacabana, Rio de Janeiro
Obs. Como não mantenho contato com a família de Céu, agradeceria muito que esta homenagem póstuma fosse endereçada a Carminha.
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stupenda...
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sábado, 20 de fevereiro de 2016

FINAL DE TARDE

De horizonte me visto porque mundo me tornei,
Pelas estrelas brilhantes do infinito escrito está:
muito além do dia, aquém da vida, me eternizarei,
sem brigar com a natureza das coisas,
sem explicações buscar por desperdício ou descuido, o que perdi.
Adiante fui passado, tudo andou, também me fui, me excedi...
Um lamento eclode em meu ser, por nada saber
se a vida eu perdi ou se ela me perdeu...
Sem tristeza ou revolta, parei de chorar,
divago este meu pensar até nada alcançar...
As boas idas em meu coração sombras deixaram,
e no silêncio deste entardecer saudoso em demasia,
faço nele meu canto, minha poesia, meu contorno...
Gloriosa tarde de um dia bem vivido, redivivo,
quantos momentos únicos em meu viver...
Sinal de adeus neste sol finado, saudoso fico,
saudades de quem me deixou, de quem eu deixei,
final da estrada, será? Ou me perdi? Nem sei...
Quem viria nem apareceu, uma noite se forma,
Um desejo expira, e me resto frente ao sol poente,
E os que me conheceram correndo, correndo partiram,
sem tempo de me conhecer direito...
Hora da Ave Maria,
plangente cantar pelas quebradas do horizonte infindo,
Muitos outros que jamais conhecerei ou deles saberei...
Saudade de quem nem me despedi direito...
Tudo isto por mim foi dito enquanto o suave encanto,
desta música me envolveu, e me comoveu,
e as letras em frases se formaram
e ficaram para sempre gravadas
enquanto a Serenata de Schubert escutava...
Rio, 20/02/2016
18:24 horário de verão.
Carlos Lira.

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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016


HOMENAGEM AOS 100 ANOS DE MINHA MÃE ALAIDE

O dia de hoje, iluminado pela graça Divina, comemoramos a aparição de NOSSA SENHORA DE LOURDES. Neste abençoado dia, se viva estivesse neste Vale de Lágrimas, minha mãe Alaíde completaria 100 anos de existência. Quanta gratidão me invade neste dia, o muito do amor filial me faz exaltar este ser de luz que viverá para sempre na memória desta família Lira. Guardiã da FÉ, a mestra das primeiras letras cantadas na cartilha do ABC, soletrando palavras embaladas nos primeiros passos desta jornada terrena, Alaíde se multiplicava... Muitos filhos para criar, o seu homem para amar e muita roupa para lavar, mesmo assim, a vocação materna falava mais alto...
Dia 11 de FEVEREIRO do ano da graça de 1915, exatos 100 anos, nascia no povoado de Camocim, em Bezerros, a minha saudosa mãe ALAIDE. Faltam-me palavras, adjetivos me fogem para exaltar este maternal amor dedicado aos filhos que se estendeu aos netos e bisnetos de sua linhagem e se perpetua até os dias de hoje. “IN FINEM DILEXIT” - “AMOU ATÉ O FIM” e foi amor incondicional de um ser vocacionado a este amor tão verdadeiro. A maior parte de sua infância ela passou em Garanhuns, fez o curso de alfabetização no Colégio Santa Sofia onde fez a primeira comunhão em companhia de sua meia irmã Beatriz, filha do padrasto, irmão da saudosa Dona Joaninha, esposa de Nilo Coletor - que a amava como uma filha legítima e muito lutou para adotá-la. Nesta época, por volta do ano de 1922, o cantor AUGUSTO CALHEIROS, residia em Garanhuns e frequentava a casa deste seu padrasto sendo muito carinhoso com Beatriz e minha mãe. Época do cinema mudo, o pianista Ariosto e a voz de Augusto Calheiros abrilhantavam a exibição do filme chapliniano. Por motivo religioso, aconteceu a separação de minha avó com este senhor, minha mãe foi internada no Colégio de Nossa Senhora do Bom Conselho, em Bom Conselho, até que fosse legalizada a adoção. Aos nove anos de idade ela retornou à Bezerros, passando a residir em casa do tio José Pedro em companhia das primas, Isaura, esposa do Tenente Luiz Gonzaga, foi uma delas. Aos 14 anos incompletos, em 1929, ainda criança, casou-se com Manuel Lira, meu pai, o casal fixou residência na Serra do Retiro. A saudosa cantora Maria Telles presenciou este casamento e com os olhos marejados exclamou: “Meu Deus! Pensei que esta criança iria fazer a primeira comunhão!” Aos 15 anos, nascia o primeiro filho e, no espaço de 30 anos, até os 45 anos, engravidou 15 vezes. Numa época de pouca assistência médica, muitos dos seus filhos morreram, a perda marcante foi a morte de sua doce Maria, uma criança com pouco menos de cinco anos de idade que morrendo exclamava: “Não quero morrer, mamãe!” vindo a falecer em seus braços...
Na década de 1940 a família veio morar na cidade dos Bezerros onde minha mãe conheceu o seu anjo salvador: Mirandolina Farias – minha madrinha Mirandinha. Este anjo levou os filhos doentes ao Posto de Saúde, onde o jovem médico Dr Euclydes minorou o sofrimento de minha mãe aflita.
No final de sua jornada terrena, outras perdas dolorosas dos filhos amados – hoje, dentre os OITO vivos, restamos somente Nancy, Jofre e eu
Neste dia de Nossa Senhora de Lourdes, a Virgem de sua devoção, também o seu dia, querida mãe, no altar do sacrifício, às 18 horas, na Igreja de São Paulo Apóstolo, na rua Barão de Ipanema, em Copacabana, todo o meu amor será exaltado e, a minha eterna gratidão a este Deus Todo Poderoso por haver-me presenteado esta minha doce mãezinha...
Naquela tarde do dia 25 de dezembro de 2006, em casa de Nancy, cantei esta música somente para a senhora, querida mãe, (ela adorava esta música na voz de Augusto Calheiros). Jamais esquecerei aquele olhar de ADEUS fitos em mim. A emoção foi tanta que chorei impotente em constatar que minha mãe estava partindo para o Reino de Deus. Vislumbrei naquele corpo frágil de minha mãe a luz da eternidade onde meu pai e meus 12 irmãos do lado de lá a esperavam numa acolhida de amor. No dia 14 de janeiro de 2007 minha mãe partiu e virou ESTRELA...
https://www.youtube.com/watch?v=C2j4xjhWVd0

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

MAGIA DO NATAL


     Hoje, último domingo do advento, "a proximidade da luz".
Resolvi assistir à Santa Missa na Igreja da Ressurreição, situada na Praia do Arpoador, entre as praias de Copacabana e Ipanema. O vigário desta paróquia é o Monsenhor José Roberto Devellar, o mesmo que celebra a Missa, aos domingos, na TV Cultura.
Como sempre, este fabuloso Monsenhor José Roberto Devellar escolhe palavras apropriadas a diversas ocasiões.

     Certa feita, este ilustre monsenhor relembrava um momento marcante em sua vida paroquial: na missa de sétimo dia em memória ao cantor Gonzaguinha, a atriz Marília Pera fora convidada a ler a epístola da missa, a atriz desculpou-se porque não trouxera o óculos. “Se o reverendo Monsenhor, permitisse, ela dirigiria algumas palavras em homenagem ao falecido”. A palavra lhe fora concedida pelo reverendo Monsenhor José Roberto. Eis que a atriz Marília Pera dirigiu-se ao púlpito e começou a tecer uma elegia em homenagem ao cunhado falecido. Segundo o Monsenhor José Roberto, foram palavras tão lindas e tão fortes, a plateia começou a chorar inclusive o próprio Monsenhor...
Imagino que este Monsenhor José Roberto deva ter exaltado a figura desta inesquecível atriz por ocasião de seu passamento, o ALELUIA de MARILIA PERA!
     
     Um sermão deste “anjo da Praia do Arpoador” é de uma expressão de palavras tão forte que atrai fiéis de vários lugares do Rio de Janeiro! São palavras fortes e vibrantes proferidas com maestria, ele não utiliza gritos ou gestos ousados e de efeito à moda evangélicos neo pentecostais... Nada disto! São palavras iluminadas, carinhosamente proferidas por um pai espiritual de todos.
     O sermão de hoje, numa dinâmica espetacular, o Padre José Roberto citou a grande presença da Virgem Maria na vida cristã – Jesus filho de Maria, Maria a mãe de Deus. O estranho comportamento de várias seitas neo pentecostais que desqualifica a presença de Maria na vida de Jesus Cristo. Algumas delas até a ignoram. Para estes neo pentecostais Jesus é o filho sem mãe, uma espécie de “filho de chocadeira”. O nosso pároco se estende em sua explanação: os pintinhos de chocadeira, são frios, sem viço, a mãe é uma lâmpada! Os pintinhos nascidos diretamente de uma galinha são alegres, saltitantes, trepam na mãe galinha, brincam com ela. O sermão vai em um crescendo espetacular indo até à distribuição dos presentes às crianças carentes da favela Pavão Pavãozinho ocorrida ontem, muitos presentes doados pelos paroquianos, belos presentes e muitos, em quantidade e qualidade, segundo Padre José Roberto. Uma garotinha com cerca de nove anos de idade ganhou um carrinho e toda feliz levou o presente ao irmãozinho de quatro anos de idade! Outra criança, após ganhar o presente natalino, exclamou: Padre, estes são os presentes que meu irmão e eu ganhamos neste natal! Este ano nem papai e nem mamãe poderão nos presentear! Estamos em crise!
Finalizando o sermão, este padre santo exclama: e o presente ao menino infante? Todo o nosso amor e toda a nossa Fé em um amanhã repleta de luz e esperança!
Final da Missa, o semblante dos presentes é de felicidade!
Salve o Monsenhor José Roberto Devellar que por muitas vezes o tratamos de Padre! Ele é simples, pouco importa! Antes de ser padre ou ser Monsenhor, ele é humano! Ele é irmão!
Carlos Lira
Feliz Natal 2015 - musicas clasicos de natal 2https://youtu.be/cAwPbfi0sE8 ►►►…
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terça-feira, 13 de outubro de 2015

ALEGORIA DA VELHICE INJUSTIÇADA


     Dói-me no fundo da alma recordar o que passou, vidas vividas em tempos idos, idos infindos e condoídos com aquilo que estou passando agora, é um excesso de passado e de vazio que me torna mais velho do que sou realmente. Em toda a minha vida até agora tudo aconteceu numa rapidez em demasia. Antes, eu vivia, eu cantava e sorria, nem pensava no amanhã. O amanhã veio e sem fim vivo, justamente porque somente os mortos conhecem o fim de tudo isto.
     Vem-me à imaginação,  neste estágio de vida, a idéia de um pequeno mundo submerso onde sempre vivi, desde pequeno, desde o nascimento, onde sempre presenciei geração após geração, pessoas sempre aprisionadas viveram. A arte cinegética, muitos rabejam pela escuridão da noite, perseguem as presas, forçando-as a subir, e com elas sobem sem coragem para descer depois. Outros tantos recorrem a velhos navios, forçando navegação sobre uma lama pesada de um rio repleto de lágrimas. A noite impera em torno de tudo isto. São seres humanos forçados a permanecer sempre no mesmo lugar, imóveis, impossibilitados de olhar a vida com olhos de otimismo e fé, vítimas de uma força estranha gerada pelos próprios. Uma réstia de luz provinda de uma abertura qualquer penetra naquele recinto, ensejando, através da fraca luz, o que se passa naquele interior. Este brilho que entra é reflexo de uma fogueira ardente produzindo luz e calor para os detentores do poder supremo que estão lá fora. No extremo, lá dentro, é maioria que impera, sem império, sem tempo adverbial ou conjunção subordinativa. Não existe explicação. Entre a luz e os prisioneiros, há um caminho ascendente, íngreme, existindo um obstacular impedimento, como se fosse a parte fronteira de um palco de palhaços e marionetes. Desfilam atos e fatos desta mesma gente aprisionada.
     Hoje é o dia do trabalho. Primeiro dia de maio, mes das flores, mes de Maria, primeiro dia estressante, mentiroso e cruel; aprisionados, os prisioneiros em carreio, cabisbaixos se deixam levar. Festejar o que? O que esperar daqui para a frente? Enquanto isso, a fogueira arde, incendeia lá fora, escândalos se sucedem, injustiças se cometem e a desordem prolifera. Goethe escreveu: "Prefiro uma injustiça a uma desordem" mas, o que dizer se ambas se irmanam neste Brasil infeliz?
     "Não é bem assim", dizem uns, "existem muitos ricos", exclamam outros, "as televisões noticiam muitos brasileiros viajando para o exterior" protestam os demais. Primeiro de maio festeja o trabalho neste palco planejado de pessoas robotizadas, estátuas e animais bem tratados por madames ricas e pretenciosas, desfilam suas fantasias para quem gosta de riquezas, vaidades, frivolidades estampadas diante de olhos famintos, remelentos e sem viços. Para estes, são dias inúteis, são passeios ou caminhadas improváveis...
     Primeiro dia de maio, obtuso proceder, sucessivas injustiças cometidas são, honestidade pervertida, sem força para trabalhar, o bem inexiste; jovens insensíveis, herdeiros de podres poderes, cultura do corpo, regidos pelo consumismo, buscam o brilho, a fortuna, a sorte ocasional, o ganho fácil. Daí a desonestidade se manifesta, cruenta festa à custa dos outros, a banalização da fé em Deus.
     Cervejas, carteados, bancos de praça, burlam a morte os velhos próceres de outrora, desamparados de certos vocábulos, margeiam uma sociedade em decomposição. Engasgam-se de tanto falar porque longe dali perderam o poder de decisão, perderam a voz, são desrespeitados. Cada vez mais a aposentadoria é minguada, direitos lhes são retirados por um governo malsão que os maltrata; friamente são postergados a ínfimos planos de prioridades. Acordam-se com bocas amargas e muita angústia em corações cheios de amor ainda. Procuram corrigir esta injustiça com prazer, mas como, se prazer, neles, inexiste? Para os pobres aposentados deste Brasil de hoje, lhes são imposto sofrer um castigo irônico. Ou é isso, ou é uma cruel distração por parte deste governo que se diz "governo dos trabalhadores"
     Olho-me no espelho, oh espelho infame! O que vejo refletido em meus olhos? A velhice? Isso não importa. O peso dos anos pesando sobremaneira? Nada disso. Vejo e reflexo da dor, do desencanto, do desespero. O mundo esqueceu de mim, neste primeiro de maio principalmente. Com exatidão, mergulho do céu, à noite, preferencialmente, como uma ave de rapina, agourenta e faminta. Faço  parte de um coral que clama e protesta, vozes fracas, transeuntes passam, nem escutam o nosso clamor, ou temos cara de Sherazade? Não importa, amanhã eles envelhecerão também...
     O que hoje há de falso no Palácio do Planalto cuja verossimilhança maltrata tanto o aposentado brasileiro? Vários octogenários  com quem conversei, estão convencidos de que sempre existiram ameias espalhadas pelos ministérios em Brasilia onde se escondem guardiões prontos a massacrar os pobres aposentados desta nação. Os  velhos miseráveis, de uma miserabilidade instituída, tentam me convencer a respeito desta verdade verdadeira, traiçoeira e assassina: no período hibernal da existência nada de notável existe, ou nada procura existir o menos possível. No Brasil, os pobres velhos vivem largos anos prisioneiros deste terror chamado governo federal.
     Apesar de tudo, Feliz dia do Aposentado por extensão, porque o dia do Trabalho é o primeiro passo para uma aposentadoria infeliz.
Carlos Lira
     

Deve-se temer a velhice, porque ela nunca vem só. Bengalas são provas de idade e não de prudência.
 

terça-feira, 6 de outubro de 2015

DIA DE CHUVA

"Você diz que ama a chuva, mas você abre seu guarda-chuva quando chove. Você diz que ama o sol, mas você procura um ponto de sombra quando o sol brilha. Você diz que ama o vento, mas você fecha as janelas quando o vento sopra. É por isso que eu tenho medo. Você também diz que me ama"
William Shakespeare

Chove muito, muito chove pelo mundo afora onde vejo o mundo que me alcança, a dança dos pingos sobre o asfalto num sonoro repicar, repetitivo, triste, sem sol, faz-me lembrar... De tantas coisas lembro-me de vez da vez primeira, de coisas perdidas nas brumas do tempo, que sem tempo para algo mais, prendo o tempo em meu recordar... Uma vez ou outra o vento do mar vai açoitando os coqueiros, as árvores e tudo que vem em frente, açoita também o meu recordar... Na rua lamacenta o trânsito escorre pelo sinal aberto, sem buzinas, até parece  existir um toque de respeitoso silêncio daqueles que ao volante se quedam, e condizem com a espetacular outridade pelo dia que chora... Ah pensamento meu que pensa... De onde vens saudade infinda, acrescida de fugaz remanso ainda, sobranceira, te beiraste sobre a neblina, umedecida por meu pranto mesmo assim. Não quero fugir deste momento solene que domina a mim, a outros, e a oportunos sofreres. Cumulus nimbus se acumulam porque muita chuva vai ter de mais verter, é esta a ordem, é este o clima que agora clama em diretas proclamas: é tempo de espera, em seguidas esferas, restamo-nos nós ao sabor do frio que ora se avizinha...
A meu saudoso amigo Armando Pacheco Filho, desde a faculdade me aturou e a ele aturei também, poeta e escritor que há um ano nos deixou.
Carlos Lira
Agora escuta esta musica, é tão triste como está sendo este dia.

www.youtube.com/watch?v=yAx2CIHyd9Q
21 de ago de 2011 - Vídeo enviado por plakların savaşı
Jean Musy - Clair de Femme 1979. plakların savaşı. SubscribeSubscribedUnsubscribe 10,70310K ..

https://www.youtube.com/watch?v=yAx2CIHyd9Q

clira

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

HOTEL LINDA DO ROSÁRIO - cap I

HOTEL LINDA DO ROSÁRIO
(PARTE UM)



“O amor é eterno é o amor impossível. Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam”.
Eça de Queiroz

O dia dos namorados é sempre um dia em que se festeja o amor em tom maior. Dia do amor, dia de amar o bem de amar. Porque faz bem amar na proporção de receber o amor de quem festeja o bem em nos amar.

"Grava-me, como um selo em teu coração, Como um selo em teu braço. Pois o amor é forte, é como a morte. Suas flechas são como flechas de fogo. Uma chama do Eterno”.
(Ct 8,6)  

Eis como se compõe o dia dos namorados, transposto inteiramente da linguagem visual de um cartão postal para a da poesia de Salomão. Porque no cartão postal uma bela mulher de cabelos ondulados e modos impudentes agarra o amado amante pelo ombro com a mão direita, enquanto outra, de cabelos louros, com gesto casto de sua mão esquerda faz apelo ao coração do objeto amado;  enquanto isso, do alto, um menino arqueiro, alado, está prestes a lançar flecha em chamas ao outro ombro do rapaz. Imaginando a cena deste cartão postal, não se ouve voz dizer: "Eu te encontrei, meu amor" ou outra: "Aquele que me procura me encontra". Não se reconhecem a voz da sensualidade, a voz do coração e a flecha de fogo do alto, do qual fala o rei Salomão.
     Amar em sua totalidade é praticar o voto da castidade que é o fruto da obediência e da pobreza. A escolha ditada pelo amor é de alcance maior do que o vício e a virtude. Aqui se trata em escolher a via da Obediência, da Pobreza e da Castidade ou escolher a via do Poder, da Riqueza e da Luxúria. Em essência, os três votos são recordações do Paraíso, no qual o homem estava unido a Deus (Obediência), no qual tinha tudo ao mesmo tempo (Pobreza) e no qual sua companheira era também sua mulher, sua amiga, sua irmã e sua mãe (Castidade). Porque a presença real de Deus acarreta necessariamente a ação de prostrar-se diante Daquele  "que é mais eu do que eu mesmo" - e aqui está a raiz e a fonte do voto de Obediência; a visão das forças, substâncias e essências do mundo na forma de jardim dos símbolos divinos ou Éden significa a posse de tudo sem escolher, sem pegar, sem apropriar-se de alguma coisa particular, isolada do todo - e aqui está a raiz e a fonte do voto de Pobreza, enfim a comunhão total entre o Único e a Única, que abrange a escala de todas as relações possíveis do espírito, da alma e do corpo entre dois seres polarizados, comporta necessariamente a integralidade absoluta do ser espiritual, anímico e corporal no amor - e aqui se encontra a raíz e a fonte do voto de Castidade. Só é casto quem ama a totalidade do seu ser. A castidade é a integralidade do ser não na indiferença, mas no amor, que é "forte como a morte e cujas flechas são flechas de fogo, a chama do Eterno". É a unidade vivida: Té és EU, eu sou TU, somos NÒS. São três: espírito, alma e corpo, que são um, e outros três: espírito, alma e corpo, que são um - três mais três fazem seis, e seis são dois, e dois são um. Tal é a fórmula da Castidade no amor. É a fórmula de Adão-Eva. Ela é o princípio da Castidade, a recordação viva do Paraíso. O amor é forte como a morte, isto é, a morte não o destrói. Por que o amor não é mais forte que a morte ou mais fraco que a morte? Se o amor fosse mais forte que a morte, deixaria de ser amor, justamente porque amor se confunde com a morte, isto é, quando amamos deixamos "morrer" a vida de solteiro, por exemplo, para deixar nascer a vida de casado. Se o amor fosse mais fraco que a morte, também deixaria de ser amor e se deixaria dominar pela paixão ou outro sentimento qualquer, distanciado do que vem a ser amor. A morte não destrói o amor porque ela não pode fazer esquecer, nem fazer cessar de esperar. A arte do  encontro é peremptório quando descobrimos que estamos cercados  de inúmeros seres vivos e conscientes, visíveis e invisíveis. Embora saibamos que eles existem realmente e que são tão vivos como nós, parece-nos que eles existem menos realmente e que são menos vivos do que nós. Na percepção intensa da realidade, para nós, somos nós que vivemos, enquanto os outros seres, em comparação conosco, parecem-nos menos reais; a sua existência tem mais da natureza de uma sombra do que da realidade completa. O nosso pensamento nos diz que é uma ilusão, que os seres fora de nós são tão reais como nós; mas é inútil, porque, apesar disso, nós nos sentimos no centro da realidade e vemos os outros seres como que afastados desse centro. Qualifica-se essa ilusão de "egocentrismo", de "egoísmo" ou  de ahamkara ("ilusão do eu") ou de "efeito da queda primordial", nada disso tem importância, uma vez que nem por isso ela cessa de nos fazer sentir-nos como mais reais do que o outro. Ora, sentir alguma coisa como plenamente real é amar. É o amor que nos desperta para a realidade de nós mesmos, para a realidade do outro, para a realidade do mundo - e para a realidade de Deus. Nós nos amamos sentindo-nos reais. E não amamos - ou não amamos tanto quanto a nós - os outros seres que nos parecem menos reais. Ora, duas vias, dois métodos bem diferentes podem libertar-nos da ilusão de "eu vivo - tu sombra", e a escolha cabe a nós. Uma  consiste em extinguir o amor a si mesmo e em tornar-se "uma sombra entre as sombras", é a igualdade na indiferença. Eu sombra - tu sombra. A outra  via ou método consiste em alguém estender aos outros o amor que tem a si mesmo, a fim de realizar a fórmula: eu vivo - tu vivo. Trata-se de tornar os outros seres tão reais como ele, isto é, de amar o próximo como a si mesmo. Porque amor não é programa abstrato, mas substância e intensidade. Baseado neste tratado é que me proponho a narrar um conto maravilhoso, transcendente, íntegro porque foi correto, absoluto porque foi único. À medida que este conto vai caminhando à seu final, o leitor poderá formular um julgamento se este amor entre Jayme e Irene é "eu vivo - tu sombra", ou "eu sombra - tu sombra" ou "eu vivo - tu vivo".

Há 34 anos que aquele quarto respira amor. Hotel Linda do Rosário, linda para amar um amor lindo, verdadeiro e eterno. Ternos momentos vividos Jayme e eu: Jayme, entre o meu amor e o amor que ele nutria por mim, adentrou em meu coração apaixonado, nele se instalou e vivemos lindos momentos de ternura e beijos. Aquartelados naquele  recanto escolhido por nós, no centro do Rio de Janeiro, próximo aos nossos trabalhos, servia de palco para aquele amor de luz. Aquelas paredes, testemunhas vivas dos nossas respirações rápidas, entrecortadas de gemidos e  beijos, guardam o segredo do nosso silencioso amor. Hotel Linda do Rosário era o ponto do nosso encontro, no mesmo andar, no mesmo quarto, no mesmo piso, no mesmo ar e na mesma cama. Jayme alugara aquele quarto exclusivamente para os nossos encontros. O trânsito do centro da cidade, na hora do almoço, na hora do nosso amor, silenciava, dando lugar aos sons repetitivos a pequenos intervalos dos pássaros, a pleno meio dia de um sol escaldante, lá fora, é claro, porque em nosso quarto, aquecidos, Jayme e eu vivíamos a intensidade do encontro que sempre aconteceu e sempre viveu em cada um de nós. Sinto, se o abraço, um coração a pulsar. Será o meu. Será o de Jayme ou será o do quarto a nos esperar? Pouco importa. Faz-me bem amar aquele homem que me ama com fervor. Quando estou com ele, sinto-me segura, cheia de esperança e guardo dentro de mim ótimas recordações deste amor que me inebria.
     - Irene, costumo pensar neste nosso esconderijo como sendo um velho  barco cortando a custo  um rio pardacento e  cheio de lama. As paredes nuas  e pintadas de um verde suave do quarto, eram como se fossem uma grande floresta.  A escuridão de uma  noite tempestuosa a nos envolver. - Jayme disse isto e baixou a voz. Apontou num gesto vago os vagos recantos do quarto penumbroso devido as janelas estarem fechadas preservando a nudez apaixonada do casal cheio de amor - este recinto está cheio de vozes, as nossas vozes, neste meu velho barco.

https://www.youtube.com/watch?v=HCPkNOAeoOY